segunda-feira, 22 de novembro de 2010

João-de-Barro


"O João-de-barro é um passarinho de nada. Como deve ser brabo, para ele, o esforço de levar no bico, por dias a fio, pedacinhos de barro e pedacinhos de capim. Mas não afrouxa o tutano, ajeita daqui, ajeita dali, voa para cá, voa para lá, traz, põe terra, não cansa, voa de novo, empurra com o biquinho os grãozinhos de terra, bate as asinhas doloridas de cansaço, se agiganta, vem a chuva ameaçando pôr tudo abaixo; ele remenda o que a chuva estragou, recomeça, vem o gavião voando para acabar com a vida dele, ele foge; quando gavião vai embora ele volta, segue em frente, traz mais barro, chega ao topo, dá os remates finais... E olha lá, num amanhecer de primavera, o rancho todo construído e ele piando de felicidade ao lado da companheira. E agora podem vir chuvas, que isto não tem mais importância. E pode vir o gavião de novo, que os filhos estão dormindo com toda a segurança numa caminha de penas. Que lindeza! Se o joão-de-barro, que é um passarinho flaquito, pode fazer tudo isso com seu biquinho de nada, por que não poderá um homem construir sua felicidade? Basta querer!"                           ( Barbosa Lessa. Os Guaxos).







Um comentário:

  1. Simpatizo muito com esse bichinho trabalhador, mas acho que o trabalho mais pesado ele faz na hora de alimentar os filhotes esfomeados. A foto está muito bonita.
    (Sílvio)

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